A semana que começa é decisiva para o Corinthians fora de campo. A diretoria do clube pretende escolher, entre Adidas e Nike, quem será a fornecedora de material esportivo nos próximos anos.
A decisão envolve cifras altas, na casa de R$ 1 bilhão, mas vai além da parte financeira. Também estão em jogo questões jurídicas, mercadológicas e até políticas.
A Adidas, que iniciou as negociações com o Corinthians na gestão Augusto Melo, já apresentou proposta para o presidente interino Osmar Stabile. O prazo para responder a oferta vence nesta semana.
Porém, antes de decidir, o clube quer ouvir a Nike. As partes se reuniram no fim do maio de 2025, e a empresa norte-americana ficou de formalizar uma proposta, o que ainda não aconteceu.
O presidente em exercício Osmar Stabile relatou a pessoas próximas que, em contato com a Nike, a empresa dos Estados Unidos manifestou verbalmente a chance de até melhorar a proposta da Adidas.
A Nike enxerga o clube como parceiro fundamental, mas nada oficial chegou ao clube até o momento. Osmar Stabile ouviu diversos caciques políticos do Corinthians nas últimas semanas. Além do presidente, o superintendente de marketing, Vinicius Manfredi, está à frente das negociações.
Parceira do Corinthians desde 2003, a companhia norte-americana trata o clube como prioridade no Brasil. Atualmente, o Timão é o único time da Série A vestido pela marca. Em 2026, Atlético-MG e Vasco também usarão uniformes da empresa.
Um dos principais trunfos da marca para seguir com o Corinthians é jurídico. No ano passado, a companhia acionou a cláusula de renovação automática de contrato até o fim de 2029 - o vínculo anterior era até 2025.
Porém, o clube contesta a validade dessa renovação. Isso porque ela foi efetivada pela Fisia, distribuidora oficial da Nike no Brasil desde dezembro de 2020, e não diretamente pela empresa norte-americana.
Por conta desse imbróglio, há na direção do Corinthians quem acredite que a Nike nem sequer fará uma proposta oficial neste momento. Tal movimento poderia atrapalhar a empresa numa eventual disputa judicial contra o clube. Afinal, se já tem uma renovação, por que aceitar negociar?
Há, porém, contatos de antigos dirigentes com a parceria dos Estados Unidos, que promete melhorar o contrato para se tornar competitivo ao ponto de fazer o clube rejeitar a aproximação da Adidas sem perder valor financeiro.
Assim como a empresa alemã, um possível acordo de R$ 100 milhões de luvas e R$ 1 bilhão por dez anos é especulado.
O Corinthians, contudo, sabe que se fechar com a Adidas deve ser processado pela Nike, o que geraria não apenas custos, mas também desgaste para os dois lados.
Em contrato não está estipulada uma multa rescisória, mas a Nike poderia pleitear uma série de indenizações, como por exemplo o valor que faturaria até o fim de 2029 e direitos sobre produtos licenciados.
Em meio a essa disputa, a Nike também poderia cobrar dívidas de produtos que foram "ignoradas" ao longo dos últimos anos para manter boa relação com o Corinthians.
A direção alvinegra acredita que essa eventual batalha nos tribunais pode durar mais de quatro anos até que seja julgada em todas as instâncias. Com isso, o valor de uma possível condenação ainda sofreria a incidência de juros e correções monetárias - sem falar dos honorários dos advogados e custas processuais.
Por isso, alguns cartolas do Corinthians entendem que "o melhor dos mundos" seria conseguir melhores condições com a Nike e não precisar passar uma separação litigiosa. A longevidade da relação entre o clube e a empresa, que realizaram diversas campanhas em parceria, é apontado como um ponto a ser considerado.
Além de ganhar mais dinheiro com a parceria, o Timão quer melhores condições de fornecimento e flexibilidade em algumas regras por parte da fabricante de material esportivo.
— Temos orgulho da parceria que já dura mais de 20 anos, uma relação construída a partir de valores compartilhados e uma conexão profunda com a apaixonada torcida do clube. Estamos encorajados pela abertura ao diálogo da nova gestão e preparados para retomar as conversas sobre estender esse legado para além de 2029, garantindo que a parceria continue sendo benéfica para ambos os lados — disse o vice-presidente e gerente geral da Nike na América Latina, Doug Bowles.
As condições financeiras oferecidas pela empresa alemã são melhores do que as discutidas nos primeiros debates de renovação com a Nike, a partir do interesse demonstrado pela concorrente europeia.
A Adidas propõe um contrato de dez anos que, com premiações por títulos e outros bônus, pode chegar a R$ 1 bilhão. Deste montante, R$ 100 milhões seriam pagos à vista, como luvas, algo que agrada muito ao Corinthians.
Embora saiba que terá gastos com a provável batalha contra a Nike na Justiça, o Timão pensa em usar esse dinheiro para aliviar o fluxo de caixa.
A Adidas também promete tratar o Corinthians como prioridade, colocando-o no mesmo patamar dos principais parceiros globais. No Brasil, o Flamengo seria o único que teria o mesmo tratamento do Timão.
Há até mesmo um componente de marketing político nesta escolha. Aliados de Osmar Stabile entendem que uma mudança de fornecedor de material representaria uma "virada de página", simbolizando um momento de reconstrução do clube sob nova gestão.
Estas pessoas também veem a relação com a Nike desgastada. Não apenas internamente, mas também com a torcida, que teria se voltado contra a empresa norte-americana após Augusto Melo exaltar o acordo alinhado com a Adidas.
Osmar Stabile adota silêncio e descrição enquanto não toma uma decisão. Ao final das conversas com as duas empresas, o presidente pretende levar a proposta predileta para ser apreciada pelos membros do Conselho de Orientação do Corinthians (CORI).



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