Vários pontinhos no meio da imensidão azul do Oceano Pacífico formam as Ilhas Marshall. O país, que foi palco de testes nucleares dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, agora está no universo do futebol. Em meio ao temor pelo futuro, por conta da elevação do nível do mar, ela se tornou a última nação no mundo a montar um time de onze jogadores e jogar como uma seleção.
Viver no Oceano Pacífico é saber que a sua casa, a sua rua, sua cidade e até o seu país podem deixar de existir em alguns anos. Essa é a realidade dos quase 39 mil moradores das Ilhas Marshall e de vizinhos da região. Com a elevação do nível do mar por conta das mudanças climáticas, o risco de tudo virar água é alto.
Afastadas da Austrália, da Ásia e da América do Norte, as ilhas foram inicialmente povoadas pelos austronésios, e depois serviram como ponto de passagem pelo Pacífico. O primeiro contato ocidental com a região ocorreu na época das Grandes Navegações, em 1526, com uma expedição espanhola. Depois, em 1788, foi a vez dos ingleses, que deram o nome do local em homenagem ao Capitão John Marshall. Missionários americanos foram para as ilhas cerca de 100 anos depois, e alemães passaram a controlar a região.
As primeiras disputas pelo território foram durante a Primeira Guerra Mundial. Ao lado da Tríplice Entente, o Império Japonês lançou um ataque naval e tomou as ilhas do Império Alemão. Anos depois, foi a vez dos Estados Unidos lançarem ataques, agora aéreos, sobre o Japão, que estava ao lado dos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Com a vitória dos Aliados na Segunda Guerra, os Estados Unidos ficaram com as Ilhas Marshall. A localização afastada serviu como palco perfeito para testes nucleares. Operação Crossroads (encruzilhadas em inglês) foi o nome escolhido para a série de testes, que forçaram a saída de moradores de suas casas. Até hoje, marshallinos vivem em exílio.
As Ilhas Marshall buscam "justiça nuclear" nos tribunais internacionais por conta dos testes dos EUA durante as décadas de 40 e 50, que deixaram altos níveis de radiação. Entre 2025 e 2027, as Ilhas Marshall representam o Pacífico no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
Foram 67 testes nucleares entre 1946 e 1958 no "Campo de Testes do Pacífico". O Atol do Biquíni (atóis são ilhas em formato de anel com estrutura de coral) foi o palco escolhido pelos Estados Unidos. A região inspirou o desenho Bob Esponja, que se passa na fictícia Fenda do Biquíni.
Independentes desde 1979, as Ilhas Marshall são discretas no esporte. A primeira participação nos Jogos Olímpicos foi em 2008, em Pequim, com cinco atletas. Presente em todas as edições seguintes, o país ainda não ganhou medalhas na competição.
Uma liga de futebol é disputada desde 1967 no país, mas sem grande destaque a nível continental ou até regional. Mesmo com uma federação nacional de futebol, as Ilhas Marshall eram o único país do mundo sem uma seleção. Ainda que muitos países não façam parte da FIFA, todos já haviam montado um time de onze jogadores, exceto as Ilhas Marshall. Eles planejam a construção de um estádio nacional.
Em 2025, as Ilhas Marshall se tornam o último país do mundo a formar uma seleção. Pessoas que cresceram fora das ilhas e que possuem ascendência marshallina podem representar o país. A campanha "2030 No Home" criou um uniforme para as Ilhas com buracos na camisa que alertam sobre a crise climática.
A estreia será em agosto, a 10 mil quilômetros da capital, Majuro. Springdale, no estado de Arkansas, nos Estados Unidos, receberá os jogos da jovem seleção. A cidade possui a maior população marshallina nos EUA. Guam, país vizinho de Oceano Pacífico, será um dos adversários. Ilhas Virgens Americanas e Ilhas Turcas e Caicos, ambas localizadas no Mar do Caribe, também disputam a Outrigger Cup.
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