Existe uma rivalidade peculiar em Brasília que une duas paixões nacionais: futebol e música. É o caso do jogo entre Capital Clube de Futebol x Legião Futebol Clube — ou, para os mais íntimos, o Clássico do Rock.
Antes é preciso voltar no tempo e falar de duas grandes contribuições de Brasília para o cenário musical: a origem de Legião Urbana e Capital Inicial.
Em 1978, um jovem Renato Russo iniciou sua carreira de sucesso com uma banda chamada Aborto Elétrico, no DF, ao lado do guitarrista André Pretorius e do baterista Fê Lemos. Com algumas trocas de integrantes e desentendimentos entre Russo e Lemos, o projeto naufragou quatro anos depois.
Mesmo com períodos conturbados, isso não impediu o trio de criar alguns dos maiores hits de Legião e Capital, como “Que País É Esse?”, “Veraneio Vascaína” e “Química”. E foi em 1982, ano da separação, que sugiram duas bandas para ficar na história da música brasileira.
Com a saída de Renato Russo, os irmãos Lemos convidaram o guitarrista Loro Jones e a vocalista Heloísa Helena para integrar um novo projeto, batizado de Capital Inicial. Contudo, a cantora não durou muito no grupo e acabou substituída.
E quem recebeu a missão de empunhar os microfones da banda foi um dos fãs mais fiéis do Aborto Elétrico: Dinho Ouro Preto. Ele, aliás, era amigo pessoal de Renato Russo — que, por sua vez, não demorou para idealizar o Legião Urbana.
No mesmo ano, o ícone nacional se juntou a Marcelo Bonfá, Eduardo Paraná (hoje, Kadu Lambach) e Paulo Guimarães (o “Paulista”) para formar o fenômeno do rock. Já em 1983, Paulista e Paraná saíram para dar lugar a Dado Villas-Lobos como guitarrista, e Renato Rocha como baixista no ano seguinte.
Dali para frente, Legião e Capital romperam as fronteiras de Brasília e lançaram diversos hits que viraram sensação do Brasil. A primeira fez um tremendo sucesso até 1996, ano da morte do vocalista Renato Russo e do fim da banda. Já a segunda está na estrada e nas rádios até hoje — o grupo completou 42 anos de vida em 2024.
Como muitos dos apaixonados por música compartilham seu amor pelo futebol, dá para dizer que não é uma coincidência o surgimento de dois clubes xarás — e o berço tinha que ser no Distrito Federal.
Em 2001, cinco anos depois da morte de Renato Russo –, o Legião foi fundado em Brasília. Inicialmente, o Time do Rock surgiu como uma equipe amadora vinculada ao projeto social “Legião de Craques”, voltada para crianças de baixa renda.
O projeto não tinha nada a ver com os ex-integrantes, mas era tocado por fãs da banda. E aí a inspiração do nome não poderia ser outra. Já em 2006, o Legião se profissionalizou e começou sua trajetória no futebol do DF.
Nesse momento, o Capital já existia, mas com suas próprias características. O clube foi criado em 2005 a partir da estrutura da antiga Sociedade Esportiva Maringá, também em Brasília. Apesar de ter o mesmo nome da banda, o Capital não é um tributo a Dinho e companhia, e sim em homenagem à capital da República.
As datas de fundação semelhantes, a proximidade regional e as referências a dois dos maiores patrimônios culturais do DF serviram para criar o óbvio: o Clássico do Rock. Claro que, mesmo sem vínculo com Dinho e cia., o Capital embarcou nessa.
"Como o Legião é uma homenagem ao Legião Urbana, e também existe a vinculação lá na origem das bandas, que uma deu origem à outra, se tornou o Clássico do Rock. A gente (Capital) adotou, até porque a gente gosta muito do pessoal do Capital Inicial", disse o presidente Godofredo Gonçalves.
Godofredo confessou que o clube nunca teve um contato direto com o Capital Inicial, mas já interagiu com a banda graças a publicações nas redes sociais. O presidente do Capital se mostrou disposto a criar uma conexão mais forte com a banda:
"Já mandamos uma camisa de presente quando o Capital Inicial fez um show aqui em Brasília. A gente nem sabe se chegou (risos). Quem sabe ter eles no nosso jogo, fazendo um show de abertura. Seria muito legal!"
Como o Time do Rock tem raízes profundas com o Legião Urbana, os fãs da equipe e da banda fazem questão de conservar essa associação até hoje, segundo Marcos Paulo Lima. Nos jogos, torcedores do Legião exalam o clima com músicas de Renato Russo. Só o hino do clube tem uma inspiração diferente, que tem uma pegada de samba e a letra não faz menção ao Legião Urbana nem ao Renato Russo.



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